Global Risk Perspectives - Monthly insights on geopolitics, trade & climate
Voltar aos artigosJorge LuzziCEO da RCG
01.06.2022
Mercado de Seguros: quando somos a proteção e quando somos os protegidos?
Muito se fala sobre a retomada mundial após a crise sanitária e econômica que enfrentamos nos dois últimos anos, entretanto, as crises políticas internacionais se agravam e o mercado vive em uma tensão que não parece ter fim. Sob essa óptica, o mercado de seguros vive uma dualidade entre ora ser a proteção, ora ser o protegido. Mas como lidar com essa linha tênue e manter as operações funcionando com segurança e alta qualidade de performance?
Até que ponto os índices de mercado são positivos
Primeiramente, é importante reconhecer que, embora os casos de contaminação por coronavírus tenham diminuído drasticamente desde o seu auge, ainda vivemos em um mundo de pandemia – o que significa que as marcas deixadas pela Covid- 19 no mercado empresarial, financeiro, segurador ainda não sumiram por completo, apesar dos índices positivos de recuperação.
Globalmente falando, a visão acerca do universo securitário era otimista e progressista até, pelo menos, o último mês de 2021. Conforme o último estudo sigma do Swiss Re Institute, era esperado que os seguros globais superassem US$ 7 trilhões até meados de 2022. Para chegar a essa conclusão, os especialistas se basearam na crescente preocupação das empresas e pessoas em relação a riscos – fator que tem aumentado a busca por proteção e o fortalecimento contínuo do preço de seguros nas linhas comerciais de seguros não-vida.
No Brasil, a perspectiva também caminhava no mesmo ritmo: de acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o número de apólices de seguros deve continuar crescendo no Brasil e, segundo a Conjuntura CNseg, o segmento segurador deve crescer 10% ainda neste ano, em relação ao ciclo anterior. Nas previsões por setores, o de Saúde terá alta entre 7,1% e 12,3%; o de Danos e Responsabilidades pode crescer de 4,6% a 12,5%; o de Cobertura de Pessoas fica entre 3,8% e 9,7%; e, por fim, o de Capitalização pode ter uma evolução de 2% a 6,9%.
O cenário de incerteza
Mesmo com as altas taxas que nos permitem ser sutilmente otimistas, é fundamental ter em mente que, nos últimos meses, o cenário geopolítico e fiscal passa por turbulências que se refletem na economia, no comércio, na logística e na cadeia de suprimentos e até mesmo no comportamento de consumo, e tais mudanças alteram, em partes, as projeções anteriormente apresentadas.
Particularmente falando, faço minhas as palavras de Diogo Castro e Silva, investidor e ex-diretor do Grupo Fosun para a América Latina. De acordo com ele, "poucas vezes na história recente um ano começa com um cardápio mais cheio que 2022. Risco geopolítico crescente de conflito entre grandes potências como desde a Guerra Fria não assistíamos, regresso de uma inflação que esteve adormecida 30 anos, eleições importantes como na França e sociedades fortemente polarizadas. Para finalizar, temos o mundo ainda lentamente atravessando a pior pandemia em um século”.
O divisor de águas
Pode-se dizer que, no mercado de Seguros e Gestão de Risco, a linha tênue entre o nosso papel de protetores e passíveis de proteção fica clara ao resgatarmos o nosso histórico secular de adaptabilidade diante das mais variadas ameaças. O cenário dos novos riscos é, em algum nível, similar ao que já vivemos no passado com as questões decorrentes de instabilidades econômicas, corporativas e políticas. Estas, quando surgiram, eram desconhecidas e pouco estudadas pelas empresas, portanto, a nossa função como brokers e risk managers foi estudar cada esfera de forma individualizada, juntar-se a parceiros do segmento e criar soluções tailor-made a partir desse processo. Teremos também o impacto do surgimento de uma nova realidade em relação às interrupções de negócios. Antes sempre atreladas a um evento gerador baseado em danos materiais, agora, após a pandemia, as interrupções de negócios poderão ter, com mais frequência, um evento primário sem quaisquer relações com danos materiais.
Em poucas palavras, continuaremos a lançar mão de tecnologia e equipe técnica extremamente qualificada a fim de aumentar a segurança dos investimentos dos clientes, otimizar a redução de riscos de prejuízos patrimoniais e garantir ao máximo a continuidade do negócio (Business Continuity). O nosso papel, hoje e sempre, é transformar os riscos contemporâneos em oportunidades. E este deve ser o tom do setor como um todo ao encarar de frente esta celeuma e as que estão por vir.
Por Jorge Luzzi, CEO da RCG