Global Risk Perspectives - Monthly insights on geopolitics, trade & climate
Voltar aos artigosAndré Figueiredo
23.03.2022
Seguro incorporado
O seguro incorporado ou embutido tornou-se um dos temas mais quentes do setor, para distribuidores, seguradores, insurTechs emergentes e empresas de capital de risco, que o veem como um potencial gerador de receitas de elevada margem e de alto crescimento.
De forma simples, o conceito de seguro incorporado agrega coberturas ou proteções no âmbito da compra de um produto ou de um próprio serviço, oferecido em tempo real ou no ponto de venda (na Customer Journey). Quando uma empresa de aluguer de automóveis oferece isenções de danos de colisão no seu website, ou na compra de um novo telemóvel o pacote selecionado inclui proteção contra roubo, estes são exemplos de seguro incorporado ou " Insurance-as-a-Service " (IaaS).
De acordo com um relatório da InsTech, o mercado de seguros incorporado deverá crescer para 722 mil milhões de dólares até 2030 – mais de seis vezes o seu tamanho atual. Este crescimento será em grande parte impulsionado pela China e pela América do Norte, que juntas representarão mais de dois terços do mercado global até 2030.
Com efeito, o Grupo Ping An Insurance na China é o maior prestador de seguros incorporado no mundo. O Ping An criou um vasto portfólio de plataformas em setores como a telemedicina, vendas de automóveis, banca e imobiliário, e integrou-os na sua plataforma de seguros.
É por isso que o futuro da distribuição de seguros está no seguro incorporado. Está a emergir como uma nova e perfeita forma de distribuir seguros e de oferecer maior valor ao mercado em benefício de todos os seus stakeholders.
A incorporação de seguros na jornada do cliente cria a oportunidade para aumentar o mercado. O velho ditado já diz: "o seguro não é comprado, é vendido". A questão é que não é fácil vender seguros. Mas se for comprado no momento certo, torna-se mais simples. Para muitos clientes, a ideia de comprar uma apólice de seguro única para proteger, por exemplo, um novo bem, pode parecer um esforço pesado e desnecessário. Em contrapartida, os seguros que estão incorporados noutras compras de produtos permitem que os clientes se protejam com um envolvimento sem precedentes (ou mesmo nenhum) e garantem a oportunidade perfeita para oferecer coberturas relevantes no exato momento em que os clientes são mais propensos a perceber o seu valor.
Com tudo isto novas categorias de seguros podem ser criadas. Será uma boa notícia para os mais de 1,5 mil milhões de pessoas que não têm conta bancária. Isto pode explicar a maior disponibilidade para experimentar novos produtos de seguros incorporados em mercados com baixa penetração de seguros - por exemplo, a Índia e a Indonésia – porque as opções existentes simplesmente não servem a base de clientes. Incorporar seguros e produtos financeiros é uma forma de baixar o custo de servir os clientes.
Os estilos de vida dos clientes também mudaram, levando ao crescimento da economia da partilha. Menos pessoas possuem carros próprios – particularmente nas grandes cidades – e, em vez disso, recorrem a empresas de aluguer de curta duração, que incorporam seguros nos termos do aluguer.
Ao mesmo tempo, existe agora uma panóplia de plataformas digitais modernas que podem ser facilmente integradas através de APIs com parceiros de distribuição e fontes de dados de terceiros. Os maiores ecossistemas tecnológicos, como a Amazon, a Apple, a Google e a Alibaba, que reúnem serviços, mercados e dispositivos numa única experiência de confiança, serão especialmente poderosos em seguros incorporados. Estes disruptores digitais estão bem posicionados para tirar partido deste mercado em crescimento, pois se o seu negócio digital tiver o controlo do cliente, dos dados, da confiança e das comunicações, está bem posicionado para incorporar seguros.
Não há dúvidas que os clientes estão a comprar cada vez mais serviços online, e usufruem da conveniência e simplicidade de comprar seguros como complemento a outras compras.
Mas, a mudança para um seguro incorporado não é tão simples como mudar o canal de distribuição. Muita coisa precisa de mudar.
A incorporação de seguros requer um produto simples, com explicações claras. As descrições têm de estar num texto simples, em vez de uma legalidade complexa. E os produtos terão de se afastar das exclusões para serem mais compreensíveis e vistos com maior confiança.
O seguro incorporado obriga-nos também a repensar os sinistros. Por exemplo, em soluções ligadas a eventos paramétricos, onde um determinado evento, que é facilmente mensurável, desencadeia a participação. Torna-se indiscutível e, como resultado, pode levar a pagamentos de 100%. Por exemplo, um seguro meteorológico paramétrico que paga com base em eventos, ou um seguro de proteção de ecrã de telemóvel que desencadeia o pagamento do sinistro com base em sensores internos do telefone.
Facilmente se compreende que alguns seguros são mais fáceis de incorporar do que outros. Os produtos que requerem subscrição mais detalhada (como é o caso do seguro de vida onde os fatores de saúde e comportamento são critérios de subscrição), os que exigem uma compreensão do comportamento do cliente (por exemplo, o Cyber, onde os clientes têm um papel importante na prevenção) ou onde existam múltiplas exclusões, podem ser mais desafiantes para incorporar.
Embora nem todos os tipos de seguros possam ser incorporados, o apetite crescente dos consumidores por fazer compras online mais complexas sugere que o mercado pode evoluir para cobrir riscos de especialidades mais exigentes nos próximos anos. Os distribuidores e os MGAs que estão dispostos a investir algum tempo e recursos em seguros incorporados irão colher as recompensas à medida que o mercado cresce.
Por André Figueiredo, Diretor de Negócio de Retalho da MDS Portugal